terça-feira, 6 de outubro de 2009

08

A consciência voltava aos poucos, incentivada pela dor no braço sobre o qual seu corpo pesava desajeitado. Rafael sentiu frio e abriu os olhos para descobrir que estava caído de bruços no chão poeirento de um salão pouco iluminado, cercado por móveis velhos e escuros, bem diferentes dos que havia na oficina do avô. O incômodo de um objeto esmagado entre seu corpo e o solo obrigou-o a se mexer um pouco. Sentiu os músculos doerem ao tentar se espreguiçar – não era impossível que tivesse ficado deitado ali, imóvel, por horas. Em seguida descobriu o que estivera involuntariamente escondendo.

Uma adaga.

Lembranças invadiram sua mente em uma onda. Embrulho, cheiro de verniz, boneco, olho hipnotizante, mulher. Morte. Achava-se bem vivo, no entanto. Levantou-se devagar, com cuidado para não forçar o braço dolorido, e se deu conta de que estava em uma espécie de capela antiga.

O lugar poderia muito bem estar abandonado. Havia pó por toda parte e Rafael percebeu que faltavam bancos nas duas únicas fileiras que a largura da construção permitia que houvesse ali. Em frente à parede oposta, não fosse por uma pequena cruz de madeira deitada descuidadamente sobre a rocha, o altar estaria totalmente vazio.

A pouca luz no ambiente advinha de janelas estreitas e altas, algumas com vidros quebrados. Ele se aproximou de uma delas para espiar o lado de fora e não reconheceu o cenário cinza e deserto, tomado por carcaças de árvores mortas, que se estendia por uma ladeira irregular. Que lugar é esse? O que está acontecendo, afinal? — Rafael tentava entender como chegara ali quando pensou ver um emaranhado de mariposas se afastar e desaparecer atrás de galhos secos e retorcidos, encobertos a todo momento por nuvens de areia e folhas. O vento invadia a capela através das falhas nos vidros, soprando ruidosamente, sussurrando palavras desconexas e ininteligíveis entre uma rajada e outra. A situação era perturbadora.

O rapaz examinou os bancos mais calmamente e acabou encontrando, apoiado no encosto de um deles, os restos de uma moldura quebrada que trouxeram o quadro do avô de volta a sua mente. Se todas aquelas coisas inexplicáveis estavam interligadas, ele não fazia a menor idéia de como isso poderia ser.

Escurecia rapidamente no interior da capela. Ali, parado entre os bancos, Rafael teve a sensação desagradável de estar sendo observado. Apertou os olhos e girou em torno de si mesmo, examinando tudo à sua volta, até perceber uma luz fraca vindo do canto do primeiro banco, onde as sombras já dominavam. Sobressaltou-se ao reconhecer alguém sentado naquele lugar afastado, encurvado na direção do altar, como que rezando. Aproximou-se, sem saber se o outro sabia da sua presença, e estacou ao som de uma voz rouca:

– Suponho que haja um bom motivo para você estar aqui.

4 comentários:

Éris disse...

Isso, me mata de curiosidade. Sabia que terça-feira ainda tá longe?! Malvado!

Crazy Mary disse...

Tem mais amanhã né? rs
Agora fiquei curiosa!

Éris disse...

Terça passou e eu tô aqui verde menta de tanta curiosidade =/

Éris disse...

Crônicas de Tenébria!
Crônicas de Tenébria!
Crônicas de Tenébria!
Crônicas de Tenébria!
Crônicas de Tenébria!
Crônicas de Tenébria!
Crônicas de Tenébria!

<3